Mocinhos e Vilões

quinta-feira, 9 de junho de 2011
Já parou algum dia para olhar pra você mesmo, a fim de responder a pergunta: Eu sou uma pessoa boa? Na verdade, no fundo todos nós nos achamos muito bons, ou pelo menos melhor que "fulano". Sempre temos uma justificativa para nossos erros e mancadas. Quase nunca ouvimos, quietos e contritos, uma bronca ou mesmo uma justa repreensão, para depois respondermos: "Tem razão. Me perdoe, me esforçarei para que isso não aconteça mais."

Separamos o mundo entre pessoas boas e ruins. Os "gente boa" normalmente são pessoas "como nós" e os "gente ruim" são as pessoas com quem jamais andaríamos. Por nos acharmos muito bons, tendemos a julgar as pessoas antes mesmo de conhecê-las e, pior, nosso julgamento é baseado no que nós vemos (ou achamos que vemos). Dessa forma, existem as pessoas de "boa índole" e os "mau-caráter". Damos muito valor, também, ao local onde a pessoa nasceu, se ela veio de um bom "berço" ou se já nasceu "mal encaminhada".

Só que é o seguinte: o que vale pra nós, muitas vezes não vale pra Deus. Pra Deus não existe "gente boa" e "gente ruim". Perante Ele, todo mundo é ruim. Os grupos que existem são "pecadores que se arrependem" e "pecadores que não se arrependem". Ponto. Diante dEle, não tem essa de "boa índole" ou "mau-caráter", porque Ele conhece nosso coração e sabe que, se fosse preciso dar aquele jeitinho brasileiro pra se safar de um encrenca ou para não cumprir com algum compromisso que está atrapalhando outros planos, nós o faríamos. Ele também não vê diferença entre a criança que nasce numa maternidade super equipada da zona nobre e aquela que nasce numa casa do subúrbio, sob os cuidados de uma parteira. Nós é que separamos e estereotipamos tudo e todos, inclusive nós mesmos.

Quando o profeta Samuel foi até a casa de Jessé, a mando de Deus, para ungir aquele que seria o futuro rei de Israel, ele aprendeu essa lição. Samuel olhou para o mais velho e pensou "com certeza esse é o cara!", afinal, ele era forte, alto e formoso. E foi aí que Deus disse a Samuel: "Você vê a aparência, mas eu vejo o coração". E adivinha: faltava um filho, o mais novo, o pastor de ovelhas, o franzino e ruivo menino que passava o dia cuidando do rebanho do pai: Davi. E foi esse rapaz, o menos esperado, que tornou-se o grande rei Davi, chamado de "homem segundo o coração de Deus".

Pois é, pessoal. Sabe qual a minha resposta para aquela pergunta ali de cima? NÃO, eu não sou uma pessoa tão boa assim. Sou cheia e falhas, algumas gritantes, outras disfarçadas, mas ainda assim, falhas. Sou um ser humano cheio de orgulho e amor próprio - tanto amor próprio que sou tentada a afastar-me de Deus todos os dias -, sou uma pessoa que é tentada a julgar as outras pelo que vejo e não pelo que são. Sou sujeita a todas as imperfeições e falhas que são possíveis a um ser humano.

Mas então, o que nos faz diferentes?
Deus. É justamente o discernimento que Ele dá para percebermos quem somos diante de quem Ele é, que nos leva até essa conclusão. Reconhecer essa condição nos leva a perceber o quão vulneráveis somos e pior, o quanto não merecemos o amor de Deus. Ele, que é a essência e a fonte da própria Bondade, ama alguém como eu. Isso é no mínimo irracional. Assim, entendemos que somos dependentes de Sua graça e amor e que, como diz a Palavra, "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as Suas misericórdias não tem fim". Ao entender tudo isso, somos preenchidos por uma alegria humilde. Não pelo orgulho que diz: "eu não sou como aquele cretino, eu sou uma pessoa boa e eu mereço tudo isso que consegui", nem pelo desespero que diz: "minha vida não vale nada, eu não consigo fazer nada, porque deveria continuar respirando?". Mas pela alegria humilde que vem de Cima, que nos leva a dizer:
"Eu sei que eu não sou bom como penso, do contrário, sou imperfeito e não mereço muita coisa. Tudo o que tenho, porém, foi o Senhor que me deu capacidade para conquistar. Eu não sei por que, nem como Você consegue me amar tanto assim, mas fico feliz em saber que Você me ama. Porque sem Você, realmente... não rola."

Crendo no Eterno,

 Carol Acioli