Politicamente Correto ou Espontaneamente Incorreto?! O.o

sexta-feira, 30 de julho de 2010
Beem, hoje vamos falar sobre essa expressão tão conhecida hoje em dia, o "politicamente correto". E essa expressão abranje muita coisa, até mesmo quem e o que vc deve elogiar num determinado ambiente.O que é, então, estar "politicamente incorreto"? É quando as pessoas se portam de maneira "inconveniente". Mas peraê...O que é ser inconveniente para a nossa sociedade?
Uma coisa é você ir a um casamento na Catedral de bermuda floral, outra bem diferente é você se submeter a algumas regrinhas que, no final das contas, te impedem de ser você mesmo. São regrinhas feitas pela chamada "classe dirigente" da sociedade - não vamos entrar em detalhes, mas é aquela parcela da sociedade que dita as normas e o jeito "correto" de agir das pessoas que fazem parte dela. Enfim, algumas normas são realmente compreensiveis - a do casamento, por exemplo - mas outras são meio que duvidosas. Ás vezes o que é politicamente correto te leva a ser "espontaniamente incorreto", ou "inconveniente".
Assim, um grupo de amigos não se junta mais pra brincar, cantar, conversar alegremente numa pizzaria, por exemplo. Porque , convenhamos, um grupo de amigos rindo, conversando empolgados e cantando musicas que relembrem momentos de sua vida numa pizzaria, seria incômodo para a maioria dos presentes ali. "Ninguém tem a ver com as lembranças deles, eles podem festejar no Parque da Sementeira, se quiserem fazer barulho.". Bom, de todo não está errado. Mas...Isso não foi espontâneo da parte deles? Porque é inconveniente deixa de ser espontâneo?Acho que não e de todo também não está errado. O fato é que pessoas espontâneas estão fadadas a agirem "fora da lei" nesse aspecto. Tenho amigos que fazem o maior barulho, um "enxame" mesmo, ao me encontrarem no shopping, depois de algum tempo sem nos vermos. É certo que tem gente que faz isso por exibicionismo, mas nesse caso posso comprovar que se trata de uma ingênua e natural espontaneidade. O que mais vejo são pessoas olhando ao redor lançando expressões de reprovação. Já cantar "Parabéns pra você" numa pizzaria, por mais "chique" que seja o local e por mais alto e animado que seja o canto, não é inconveniente. Alguns dos presentes até cantam junto. Ser inconveniente é diferente. A inconveniencia tem sido confundida com falta de educação. Lógico que também não dá pra justificar mal educação com espontaneidade. Não vá por favor sair gritando "Eu sou teriiiiivel" no shopping e diga que Carolzinha falou que é "ser vc mesmo". Põe uma melancia na cabeça que é melhor. Ninguém precisa saber que vc é terrivel assim, colega husuhshus...Chegue cantando assim numa reunião com seus amigos. Ta vendo? Nem tudo que é regrinha de etiqueta é realmente ruim. Algumas coisas realmente acabam por prevenir certas aparições, é o que me garante que eu não vou precisar ouvir ninguém cantando essa música um tanto irritante para mim no meio do shopping. Algumas regrinhas são necessárias para uma relativa ordem, mas... E quando o que é "politicamente correto" exige que sejamos falsos? Tem gente que age de uma maneira contrária àquilo que pensa apenas porque é "conveniente" ao ambiente. Ir  para uma festa e descobrir que tem uma indivíduA com a mesma roupa que vc é "o Ó" para as mulheres - para minha mãe, por exemplo - e talvez eu até me incomodasse se visse alguém com a mesma roupa que eu caprichosamente escolhi e preparei para quela ocasião. Mas não ficaria plantada, sentada, sem curtir a festa, com "vergonha" ou achando que " é inconveniente". As pobres das duas pessoas por acaso poderiam adivinhar, peloamordeDeus? CLARO QUE NÃO! As duas se prepararam para aquela festa, porque perde-la por causa de um pedaço bem ornamentado de tecido?
Ah, pode parecer um pensamento "não feminino", mas não é bem assim. Sou feminina, mas sou espontânea e, assim como alguns dos meus amigos, sou alguém que vive "fora da lei", ás vezes "incoveniente", "pessoa que não sabe se portar". Mas entendo uma coisa é ser educado, outra é ser alguém que você não é só porque algumas pessoas acham que é daquele jeito que vc tem que ser. E uma coisa é falar o que vc falou porque vc realmente pensa daquele jeito, outra é falar porque alguém disse que "pega bem" se vc falar. Do que adianta, por exemplo, ser politicamente correto e elogiar aquele vestido que a dona da festa está usando se, quando ela virar as costas, um "ai que brega" vai sair pela mesma boca que a elogiou? Palavras, palaaavras...Como já disse o grande Sérgio Pimenta, "com certeza fala bem melhor o mudo se a sua atitude manifesta o que crê". Ás vezes o ser "politicamente corretos" nos faz sermos como fonte que quer dar doce e amargo. E tipo, não rola, pessoal. Especialmente se algum jovem crente está lendo essa postagem. Se alguma regra de etiqueta ou o ser "politicamente correto" fizer você ser quem vc não é, falar o que vc não pensa, fazer o que vc sabe que é errado...Simplesmente não faça! Viva fora da lei...No bom sentido, é claro! Porque algumas regras humanas valem mais quando são quebradas ;)
Beijos e Queijos

Índios ontem, índios hoje..[Parte 3]

terça-feira, 13 de julho de 2010
Por fim, depois de conhecer um pouco da ação desses dois colonizadores com relação á cultura indígena, vamos conhecer finalmente sobre os índios. Eles, que sofreram etnocídio por parte dos jesuítas e genocídios por parte dos fazendeiros, tinham uma cultura extremamente vasta antes da chegada dos"colonizadores". Sergipe era território  de várias tribos: Kiriri,Tupinambá, e tantos outros viviam e praticavam suas diferenciadas culturas livremente. Os Tupinambá dominavam, mas não são O modo de ser indígena, e sim UM modo de ser indígena. No decorrer dos séculos, eles foram explorados de várias maneiras pelos europeus, mas sempre resistiram. Apesar da Carta de Tolosa demonstrar que as resistências eram em quantidade ínfima, não é bem isso que vemos. Muitos índios fugiram de suas aldeias para não receberem os padres, outros negavam o batismo, alegando que não criam no Deus cristão, que o batismo não os salvariam, que o inferno não era realidade para eles. Quanto a ação dos fazendeiros, os índios lutaram bravamente na "guerra justa", reunindo cerca de 20.000 em defesa de suas aldeias. Principais como Serigi e Baepeba, líderes da resistência, não são citados nos documentos oficiais. Perderam suas terras - legalizadas, por sinal - com a Lei de Terras de 1850, que usou a mestiçagem para afirmar que não existiam índios "puros" e, portanto, eles não eram autenticos e não tinham direito ás terras. Os Xocó, tribo que até hoje permanece no Estado residindo na Ilha de São Pedro e Caiçara - Porto da Folha - lutaram para retomar suas terras, ocupando-as e também recorrendo aos orgãos judiciais. Pasaram cerca de 100 anos sem poder afirmar sua identidade como índios, sem poder praticar suas danças e festas sagradas, sem poder VIVER o ser índio e foram divididos, indo sua grande maioria viver junto aos Kariri em Porto Real do Colégio, Alagoas.Conseguira, por fim, reaver as terras, depois de muitos conflitos com a família de João Porfírio de Brito - o sobrenome não é mera coincidencia - e hoje possuem uma escola, com 7 professores índios e 2 não indígenas. Tiveram que reaprender sua própria cultura, mas hoje são a prova viva de que ser índio não tem a ver com fenótipo, mas sim com o que está por dentro, com o reconhecimento de si próprio como parte do povo indígena. Sua cultura, mesmo sofrendo perdas, ainda é digna de admiração. Vale a pena vê-los dançando o toré - sua dança sagrada - e conhecer sua educação, que valoriza a natureza, que respeita os idosos e zela pelas crianças. Os índios não aquela gente que anda nua, que não fala português. Eles atpe gostam de cantar música sertaneja, depois de dançar o toré, é claro. Eles trabalham, vendem seus artefatos e o fruto de suas roças para sobreviver. Vivem em casas telhadas e de tijolos e estão dispostos a receberem visitantes que se interessem em mostrar como precisamos observar essa cultura para aprender. Os índios também não são "vítimas", não devemos vitimá-los, como faz Maria Thetis Nunes, nem vê-los como selvagens, como viu Elias Montalvão e Felisbelo Freire.Até se tem uma coisa que os índios não são é "selvagem". São pessoas com uma cultura diferente da nossa e, a partir dessa cultura, que para nós é ainda tão nova, é que podemos repensar nossa própria sociedade.
Xocó dançando o Toré.

Outro agente da colonização de Sergipe foi o criador de gado. Eles também queriam levar a "civilização"ao índios, mas pela força. A boa relação que antes tinham com os padres sumiu diante das "boas pastagens" de Sergipe. Assim como estas terras atraíram os jesuítas pelos índios "indóceis", atraíu o fazendeiro pelo bom pasto para a expansão da pecuária e por serem território de ligação entre Pernambuco e Bahia, duas bem sucedidas capitanias. Além disso, já sabemos que muitos índios fugidos da escravidão encontravam-se abrigados aqui. Garcia D'Ávila e talvez o mais importante nome nesse processo. Ao lado temos uma foto das ruínas da Casa da Torre, propriedade de D'Ávila. O "poderoso chefão" pressionava o governador baiano Luís de Brito para realizar a ocupação de Sergipe e consequente expulsão dos gentios. Ele apoiou a chamada "guerra justa" em 1590, liderada por Cristóvão de Barros, outra importante figura da época. A guerra dizimou milhares de índio e levou outros milhares cativos. A Coroa, em sintonia com os interesses dos pecuaristas, financiou a guerra dando títulos e dinheiro a quem participasse.A Casa da Torre foi a base organizacional das tropas européias que avançavam sob o comando de Cristóvão de Barros. Ele liderou a última e única bem sucedida tentativa de colonização de Sergipe. Assim como Lourenço, ele era experiente na sua área de atuação, já tendo agido na Bahia. A "guerra justa" marcou a noite de Ano Novo de 1590 com milhares de mortes. Apesar dos índios estarem em grande vantagem numérica, os europeus tinham armas muitos mais sofisticadas e efiientes, como rifles, pistolas e também cavalos, o que facilitava o cerco aos índios. Subistituiram as aldeias por vilas e cidades, as quais tinham a intenção de expandir a cristandade - as muitas construções de cunho religioso que se encontram em Sao Cristóvão atestam isso - e também tinham importância administrativa, diminuindo os desmandos dos poderosos locais.
Muito boa noite, amigos leitores! Finalmente chegou o dia do texto a respeito da enquete da primeira postagem. Perguntei a vocês como imaginavam um índio quando ouviam esse termo, e respostas interessantes surgiram. Mas o que mais me impressionou foi o fato de, primeiramente, ainda existir a idéia mitificada do índio e, segundo, de ainda existirem pessoas que não sabem absolutamente nada sobre eles. Portanto, através de três postagens, vamos discutir a presença indígena e européia da época da colonização até hoje; vamos também conhecer as principais visões sobre eles no decorrer do tempo e refletir sobre a cultura - tanto do "colonizado" como do "colonizado". Vamos lá?
Para começo e conversa, os termos "coloniador" e "colonizado" são utilizados erroneamente para apresentar a dicotomia: europeu-dominador X índio-dominado. Mas é bom lembrar que bem antes de existir colonização em Sergipe e antes mesmo da chegada dos europeus ao Brasil, os Tupinambá já dominavam a terra chamada Pindorama. Eles eram os dominadores de outras tribos, tendo na guerra a chave da sua cultura, espalhando-se por todo o litoral. Portanto, quando o europeu chegou aqui, já existiam dominados e dominadores por causa dos conflitos tribais. O termo que os Tupinambá usavam para se referir aos seus inimigos era "tapuia", mais tarde usado erroneamente pelos "colonizadores", proporcionando a mutilação da vasta cultura indígena e restringindo-a á cultura Tupinambá. Entendendo isso, vamos agora entender a cultura de quem chegou. Os europeus, em especial os portugueses, estavam imbuídos do aventureirismo proveniente das "grandes navegações" e, nos seus relatos, muitos mitos existiam sobre estas terras. A chegarem aqui, eles não viram o nativo como alguém diferente do ponto de vista cultural, mas sim alguém petencente a uma cultura "menor". Antes de 1575 não existia colonização propriamente dita em Sergipe, apesar de já haver interesse nas terras entre o Rio Real e o São Francisco. Primeiramente, na fase do comercio do pau-brasil, o estrangeiro não feriu a cultura indígena, pois da simpatia dos índios por ele é que dependia o sucesso do negócio. Mas depois, especialmente com a reforma da Igreja Católica e com a necessidade de abertura de novos pastos para a pecuária desenvolvida na Bahia e em Pernambuco, as coisas começaram a mudar. Esses dois fatores principais foram responsáveis pela chegada de dois tipos de colonizador em Sergipe: o jesuíta e o criador de gado. Nessa primeira parte falaremos do primeiro.
O jesuíta, ligado ao Conselho de Trento - marco da reforma Católica em vista do avanço do Protestanismo - começou a formar e organizar missões de catequese, interessados nos índios "indóceis" e "desviados" que existim em Sergipe. O território era local praticamente livre dos índios e muitos deles vinham fugidos da escravidão na Bahia, especialmente do Recôncavo baiano. Assim, a capitania interessava os padres, que buscavam levar a "civilização" ao gentio através da expansão do evangelho da paz". Eles enviaram Solônio e Gaspar Lourenço para catequisar essas terras. Lourenço, então com 40 anos, já tinha muita experiencia na catequese de índios na Bahia e também era um afamado "língua" (aquele que falava e interpretava as línguas indígenas). Eles são apresentados como heróis na Carta de Tolosa - documento enviado á Coroa com o fim de propagandear a missão - , homens que enfrentaram a hostilidade dos índios e da natureza em nome de Cristo. Mas o que na verdade os jesuítas faziam? Como adeptos de um catolicismo penitencial, de uma cultura católica que via naquela crença o modo correto de ser civilizado, eles contribuiram para o etnocídio dos índios. Etnocídio porque  a cultura indígena foi gravemente ferida através da imposição do catolicismo aos indígenas. Trechos da Carta revelam como Lourenço usava a pedagogia e o emocionalismo para comover e convencer os índios - o levantar da cruz, por exemplo, feito com pompa e luxo - e também como introduziram os termos "batismo" e "inferno", próprios da sua cultura, na cultura indígena. Para eles, era o demônio que " se urdia" e inspirava as resistências indígenas, mas era Deus quem "os trazia". O código religioso era só uma justificativa para os interesses dos jesuítas que, como "colonizadores", desejavam dominar os nativos. Eles também se utilizavam da natureza, o que revela o senso utilitário presente na cultura européia, e que também estará presente no criador de gado, que tornou-se rival dos jesuítas na disputa pelas terras sergipanas.