Índios ontem, índios hoje...[ parte 1]

terça-feira, 13 de julho de 2010
Muito boa noite, amigos leitores! Finalmente chegou o dia do texto a respeito da enquete da primeira postagem. Perguntei a vocês como imaginavam um índio quando ouviam esse termo, e respostas interessantes surgiram. Mas o que mais me impressionou foi o fato de, primeiramente, ainda existir a idéia mitificada do índio e, segundo, de ainda existirem pessoas que não sabem absolutamente nada sobre eles. Portanto, através de três postagens, vamos discutir a presença indígena e européia da época da colonização até hoje; vamos também conhecer as principais visões sobre eles no decorrer do tempo e refletir sobre a cultura - tanto do "colonizado" como do "colonizado". Vamos lá?
Para começo e conversa, os termos "coloniador" e "colonizado" são utilizados erroneamente para apresentar a dicotomia: europeu-dominador X índio-dominado. Mas é bom lembrar que bem antes de existir colonização em Sergipe e antes mesmo da chegada dos europeus ao Brasil, os Tupinambá já dominavam a terra chamada Pindorama. Eles eram os dominadores de outras tribos, tendo na guerra a chave da sua cultura, espalhando-se por todo o litoral. Portanto, quando o europeu chegou aqui, já existiam dominados e dominadores por causa dos conflitos tribais. O termo que os Tupinambá usavam para se referir aos seus inimigos era "tapuia", mais tarde usado erroneamente pelos "colonizadores", proporcionando a mutilação da vasta cultura indígena e restringindo-a á cultura Tupinambá. Entendendo isso, vamos agora entender a cultura de quem chegou. Os europeus, em especial os portugueses, estavam imbuídos do aventureirismo proveniente das "grandes navegações" e, nos seus relatos, muitos mitos existiam sobre estas terras. A chegarem aqui, eles não viram o nativo como alguém diferente do ponto de vista cultural, mas sim alguém petencente a uma cultura "menor". Antes de 1575 não existia colonização propriamente dita em Sergipe, apesar de já haver interesse nas terras entre o Rio Real e o São Francisco. Primeiramente, na fase do comercio do pau-brasil, o estrangeiro não feriu a cultura indígena, pois da simpatia dos índios por ele é que dependia o sucesso do negócio. Mas depois, especialmente com a reforma da Igreja Católica e com a necessidade de abertura de novos pastos para a pecuária desenvolvida na Bahia e em Pernambuco, as coisas começaram a mudar. Esses dois fatores principais foram responsáveis pela chegada de dois tipos de colonizador em Sergipe: o jesuíta e o criador de gado. Nessa primeira parte falaremos do primeiro.
O jesuíta, ligado ao Conselho de Trento - marco da reforma Católica em vista do avanço do Protestanismo - começou a formar e organizar missões de catequese, interessados nos índios "indóceis" e "desviados" que existim em Sergipe. O território era local praticamente livre dos índios e muitos deles vinham fugidos da escravidão na Bahia, especialmente do Recôncavo baiano. Assim, a capitania interessava os padres, que buscavam levar a "civilização" ao gentio através da expansão do evangelho da paz". Eles enviaram Solônio e Gaspar Lourenço para catequisar essas terras. Lourenço, então com 40 anos, já tinha muita experiencia na catequese de índios na Bahia e também era um afamado "língua" (aquele que falava e interpretava as línguas indígenas). Eles são apresentados como heróis na Carta de Tolosa - documento enviado á Coroa com o fim de propagandear a missão - , homens que enfrentaram a hostilidade dos índios e da natureza em nome de Cristo. Mas o que na verdade os jesuítas faziam? Como adeptos de um catolicismo penitencial, de uma cultura católica que via naquela crença o modo correto de ser civilizado, eles contribuiram para o etnocídio dos índios. Etnocídio porque  a cultura indígena foi gravemente ferida através da imposição do catolicismo aos indígenas. Trechos da Carta revelam como Lourenço usava a pedagogia e o emocionalismo para comover e convencer os índios - o levantar da cruz, por exemplo, feito com pompa e luxo - e também como introduziram os termos "batismo" e "inferno", próprios da sua cultura, na cultura indígena. Para eles, era o demônio que " se urdia" e inspirava as resistências indígenas, mas era Deus quem "os trazia". O código religioso era só uma justificativa para os interesses dos jesuítas que, como "colonizadores", desejavam dominar os nativos. Eles também se utilizavam da natureza, o que revela o senso utilitário presente na cultura européia, e que também estará presente no criador de gado, que tornou-se rival dos jesuítas na disputa pelas terras sergipanas.

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