Resenho - Os Corumbas

quinta-feira, 31 de maio de 2012

OS CORUMBAS



Carolline Acioli O. Andrade
Graduanda em História (UFS)
Disciplina: História de Sergipe II
Prof.: Antonio Lindvaldo Sousa



Armando Fontes é um romancista paulista formado em direito, de ativa participação política – exerceu o cargo de deputado federal a partir de 1934. Fontes idealizou Os Corumbas ainda em 1919, quando, por motivo de doença, veio a Aracaju e isolou-se por mais de um ano na fazenda na qual vivera parte de sua infância. Mas o texto só foi publicado em 1933, sendo recebido com aplausos pela crítica, recebendo o Prêmio Felipe d’Oliveira. Fontes ainda escreveu Ruas de Siriri (1937) e deixou o inacabado O Deputado Santos Lima.

            Em Os Corumbas, Fontes retrata as primeiras décadas do século XX em Aracaju, com foco maior nos anos 1920. Os protagonistas do enredo são os membros da família Corumba: Seu Geraldo, Sá Josefa e seus filhos Pedro, Rosenda, Albertina, Bela e Joana (Caçulinha). O romance é dividido em três partes. A primeira está dividida em quatro subpartes e narra o encontro de Geraldo e Josefa, ainda nas suas mocidades, na comemoração da festa de São José na fazenda Urubutinga.  Também demonstram as causas que levaram a família dos Corumbas a abandonar o campo e tentar a sorte na capital. A violenta seca de 1905 que assolou a colheita, a morte do pai de Josefa e os esforços vãos dela e de Geraldo para manter a fazenda, os dezessete anos vivendo no Engenho Ribeira como retirantes e a posterior baixa do açúcar desanimaram os sertanejos, que viram na capital e no trabalho nas fábricas o único futuro possível para a família. A segunda parte possui quarenta e três subpartes que relatam em detalhes os seis anos que a família passou em Aracaju. Nesses anos, a luta contra a miséria, as doenças, a fome e as tragédias familiares acompanharam os Corumbas. Esta é a principal parte do Livro. Por fim, a terceira parte, sem nenhuma subdivisão, trata do regresso melancólico e humilhante de Geraldo e Josefa ao Engenho da Ribeira.

            O autor reconstrói a sociedade aracajuana recém-industrializada a partir do drama dessa família e dos personagens que cruzam seu caminho. Fontes faz da família Corumba um retrato que aponta para tantas outras que vieram para Aracaju em busca de melhoria de vida e acabaram desiludidos, no final. Percebemos os anseios e sonhos que permearam a cabeça de Sá Josefa quando aventou a ideia de se mudarem:



                                   Na Capital, havia emprego para as duas meninas mais velhas. Era nas Fábricas de Tecido. Estavam assim de moças, todas ganhando bom dinheiro... Pedro não custaria em conseguir um bom lugar, como ferreiro ou maquinista... Uma outra vida, enfim. Vestia-se melhor, andava-se no meio de gente... Depois, tinha assim uma certeza, uma espécie de pressentimento de que lá as filhas logo casariam. Isso, as mais velhas. As duas mais novas iriam para a escola. Nem precisavam de trabalhar. Caçulinha, que era tão viva e inteligente, bem poderia chegar a professora... [1]



                Mas os anseios da mãe de família não se realizaram. Antes, nos seis anos que viveram em Aracaju, a desgraça se abateu sobre os Corumbas. Pedro, o único filho homem, envolveu-se com o movimento anarquista e, por ser um dos cabeças de greve, foi preso e deportado para o Rio de Janeiro. As duas filhas mais velhas trabalhavam nas fábricas de tecido. Rosenda, a primeira filha, logo envolveu-se com um cabo chamado Inácio e fugiu com ele. Mas, foi abandonada e entrou para a prostituição. A segunda filha, Albertina, a que melhor ganhava, também acabou sendo enganada. O médico Fountoura, após longo cortejo, conseguiu convencer a mulata a fugir com ele. Mas, após cinco meses, a abandonou e ela também acabou caindo na prostituição, indo morar na Rua de Siriri, centro de prostituição da cidade. Bela, a outra filha, estava sempre doente. Quando Albertina fugiu, ela decidiu sair da escola e empregar-se na fábrica para ajudar na sobrevivência da família . Mas acabou não resistindo à tuberculose. E Joana, chamada por todos de Caçulinha, sob quem repousava a esperança da família, também precisou largar a escola, abandonando seus estudos na Escola Normal e o sonho de torar-se professora, para trabalhar na indústria têxtil. Ela conseguiu um noivo, o soldado Zeca. Mas, após terem relações, o noivado deles entra em crise. A pressão das convenções sociais, especialmente sobre a mulher, colocou em cheque os sentimentos de um pelo outro. O noivado acabou sendo desmanchado e Caçulinha, tomada pela vergonha e humilhação, acabou aceitando viver às custas de Gustavo de Oliveira, um chefe político do sertão, se tornando sua amante.

            Os acontecimentos vividos nos seis anos em que moraram no Aracaju envelheceram e tiraram a esperança e a vontade de viver do casal Geraldo e Josefa, que decidem voltar ao Engenho da Ribeira. O romance acaba de maneira triste e emocionante, relatando o choro dos velhos, e os soluços de Sá Josefa, personagem sempre tão ríspida e forte, alarmando os que se encontravam no mesmo trem que eles. Fontes escancara a realidade dura do cotidiano dos operários em Aracaju no início do século XX. O ideal de progresso, tão aclamado e defendido pelas elites, não se mostrava tão bonito assim do ponto de vista dos trabalhadores. As jornadas de trabalho eram desumanas, o desrespeito às mulheres era constante – elas eram tratadas como objeto – e não raro ocorriam acidentes de trabalho que custavam a vida de crianças e adolescentes que trabalhavam como aprendizes.

            O drama feminino é um dos pontos principais sobre o qual Armando Fontes tece sua trama. A maioria das pessoas que trabalhava nas fábricas eram mulheres. Ser mulher operária era sinônimo de ser “mulher de vida fácil”, para a sociedade. Além da discriminação, elas sofriam assédios dos contra mestres e não podiam reagir, sob a pena de perder seus empregos. Foi o que aconteceu com Albertina. Ao responder brutalmente ao assédio do contra mestre e depois ir reclamar justiça ao gerente, ela foi demitida. As palavras do gerente nos possibilita perceber a defasagem de poder que existia nas fábricas: “Ele é o contramestre! [...] É na palavra dele que eu tenho de acreditar. Senão, adeus ordem e disciplina...A senhora mesma foi culpada de tudo. Fez um bruto escândalo na hora do serviço.” [2] Em nome dos ideais do progresso, pautados na ordem e na disciplina, desconsidera-se o humano e os direitos dos trabalhadores. Naquela época, os pobres já não tinham direito a ter direito, muito menos as mulheres.

            As mulheres dependiam econômica e socialmente dos homens. O pensamento do casal Corumba, manifestado com pesar após a fuga de Rosenda, revela isso: “Queriam, apenas, vê-las casadas! Que depois, com seus maridos, fossem obrigadas a lidar por todo o dia, sofressem mais duras privações... Nada disso importava: casadas, elas seriam gente!” [3] Para dar voz aos sofrimentos da mulher, é que Fontes escolhe criar uma família formada, em sua maioria, por mulheres. Também percebemos que a personagem Sá Josefa é mais citada do que Seu Geraldo, no tocante às decisões e ao trato com as filhas e com os acontecimentos que se abatem sobre a família. Ela é mostrada como uma mulher de temperamento forte e gênio difícil, enquanto Geraldo, apesar de chefe da casa, possui temperança e personalidade mais mansa.

            Fontes também aproveita para mostrar outra face do operariado, aquela que resistia. Esse outro lado da moeda é representado pelo tipógrafo José Afonso. Imbuído de ideias anarquistas e leituras de cunho socialista e comunistas, e uma tendência à liderança, ele reorganiza a Sociedade Proletária de Aracaju e funda o jornal O Proletário. Pedro Corumba é influenciado por este homem e discipulado nas ideias de esquerda. Mas é apenas quando as fábricas anunciam a jornada noturna sem pagamento extra que a cidade começa a fervilhar. Os líderes da Sociedade lançam o indicativo de greve, enquanto as fábricas ameaçam despedir aqueles que faltassem o trabalho. Os grevistas respondem atacando os trabalhadores na volta do expediente. Fontes também mostra que os interesses políticos não ficavam à margem desses fatos. O Presidente do Estado planejou um golpe para atrair a atenção popular e angariar votos. Ele declarou tomar partido dos operários, defendendo os oprimidos contra os opressores. Quando a situação, porém, tomou proporções que ele não calculara, sua atitude foi a de ordenar a repressão dos líderes grevistas. Foi nesta ocasião que Pedro foi preso e deportado.

            Alguns personagens são mostrados como pessoas da elite que, procuradas pelos pobres, tentavam ajudá-los a melhorar de vida. Uma dessas figuras é o Dr. Barros, a quem a família Corumba recorre por mais de uma vez. Mas Fontes não deixa de criticar também esses benfeitores. Em certa passagem, quando Caçulinha vai pedir por uma recomendação de emprego e anuncia que irá abandonar a escola, Fontes descreve o pesar d Dr. Barros e dos seus amigos intelectuais. Esses benfeitores começam a refletir sobre o caso e sobre a sociedade aracajuana e suas contradições. Nesse ponto, Fontes escreve que a conversa toma rumos mais amplos e cada um esforçou-se por “sustentar suas ideias a respeito da melhor organização social do mundo”. [4] Ou seja, a elite discutia e refletia sobre os problemas sociais, mas não agiam de maneira verdadeiramente eficaz e comprometida a ponto de modificar realmente a ordem social vigente.

            O livro também nos oferece uma visão material da cidade de Aracaju. O ponto mais alto e bonito da cidade era a colina do Santo Antônio. De lá, se observava a capital e sua construção. As casas do subúrbio eram tanto de palha como de telha, espalhadas por entre os arbustos ralos da caatinga. O cemitério Santa Isabel estava mais adiante, também fora do quadrado de Pirro, que constituía em tese a cidade. Esta é descrita como “um todo amontoado de tetos vermelhos, afogados entre o verde dos coqueiros e das árvores que vicejavam nos quintais.” [5] Além disso, Fontes captura aspectos culturais daquela época. As festas – de São José, São João, Bom Jesus dos Navegantes – são sempre descritas como aqueles raros momentos de alegria e prazer para a pobre família Corumba. Eram as ocasiões nas quais a gente sofrida podia se distrair, divertir-se e esquecer um pouco das mazelas que enfrentavam. Era também o momento de celebrar a religiosidade e, portanto, as esperanças dos Corumbas retornam após as festas, como se estas fossem uma promessa de que tudo acabaria bem, ao final.

            O romance é de linguagem acessível, apesar de conter palavras desconhecidas para o público atual. Mas sua leitura torna-se um tanto difícil na medida em que o leitor se permite olhar a família Corumba como representante de tantas centenas de outras famílias que viveram em condições semelhantes. Ao tentar transportar-se para aquela sociedade e aquele tempo, o leitor acaba por envolver-se com o drama dessa família. É difícil, especialmente para estudantes acadêmicos, manter-se indiferente. O formato de romance contribui para este sentimento de empatia com os personagens. Seria talvez precisamente este sentimento que Armando Fontes desejou passar aos seus leitores. Os Corumbas torna-se, por sua riqueza de detalhes e fidelidade ao contexto ao qual se refere, uma leitura obrigatória para todos aquele que desejem entender a sociedade aracajuana recém-industrializada do começo do século XX. E, ao mesmo tempo, é uma obra que nos faz refletir sobre o presente e o preço que foi pago em nome do ideal do progresso e desenvolvimento, tão caro a nossa sociedade até hoje.





Referências Bibliográficas

FONTES, Armando. Os Corumbas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999, 172 p.



[1] FONTES, Armando. Os Corumbas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999, p. 10.
[2] Id. Ib. p. 29
[3] Id. Ib. p.59. [grifo nosso].
[4] Id. Ib. p.90.
[5] Id. Ib. p.127.

Modernização em foco: semelhanças entre Sorocaba e Aracaju

terça-feira, 29 de maio de 2012
Ao pensarmos o processo de modernização de Aracaju, precisamos considerar o cenário nacional e a tendência à industrialização que emergia. Confrontando o texto do Prof. Arnaldo Pinto Júnior, "As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque no município de Sorocaba", e as informações que temos sobre a modernização de Aracaju nas primeiras décadas do século XX, encontramos semelhanças entre as duas cidades.

Primeiramente, o texto do Prof. Arnaldo Pinto Júnior enfatiza a história local, denuncia o distanciamento da história local dos alunos e possui influência do ideal liberal do "progresso" por meio da indústria. O autor procura resgatar o passado de Sorocaba, defendendo o interesse pelo estudo da história da cidade, relembrando que ela não deve ser vista com desprezo e que seu passado não pode se limitar às grandes figuras. Ele retoma a chegada do ideal modernizador em Sorocaba e demonstra como a cidade cresceu e se destacou graças a esse ideal. O autor ressalta, porém, que o modelo de construção da cidade foi elitista, ou seja, excludente. Uma cidade da elite para a elite.

Os mesmos pontos principais podemos aplicar a Aracaju do início do século XX. Entre 1855 e 1905, Aracaju encontrava-se sem recursos financeiros e era flagelada por epidemias. A crise do açúcar e a abolição frustram os planos da elite. Mas a partir dos anos 1910, Aracaju é contaminada pela "onda progressista" e "futurista". O passado serve para resgatar as glórias da cidade e sua história limita-se aos grandes homens. O modelo de cidade moderna pede um modelo de cidadão moderno também, aquele que será o "trabalhador nacional", tendo no ideal do trabalho sua principal marca. O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe surge para elevar a figura dos grandes homens e erigir um passado do qual as elites se orgulhariam, compensando o complexo de inferioridade por causa da dependência de Sergipe à Bahia. Assim, a chamada identidade sergipana é construída para ser branca e masculina. A modernização traz as fábricas, as comarcas, as cadeias, as usinas e também o operário explorado - especialmente as mulheres, que sofriam os piores abusos - e do operário ativo politicamente que denunciava os desmandos dos patrões através de jornais e folhetins.

Percebemos, nos dois casos, a tentativa de implantação da cultura européia através do modelo de construção de cidade moderna segundo os padrões europeus. Aracaju e Sorocaba são exemplos de cidade cuja história foi, por muito tempo, contada por aqueles que erigiram uma identidade falsa para a população dessas regiões. Agora, a busca por uma história e pelas identidades dessas regiões passa por aqueles que foram marginalizados nesse processo e que, juntos, salvarguardam uma outra história, ainda a ser contada.
O evento acima citado ocorreu entre os dias 21 e 23 de maio de 2012, na Universidade Federal de Sergipe. A proposta era refletir sobre a produção de alimentos e de outras manifestações culturais tradicionais. A abertura do evento foi feita pela coordenadora do GRUPAM - grupo de pesquisa que organizou o evento - Prof Sonia Mendonça.

A conferência de abertura (21/05) contou com a contribuição da Profª Ellen Woortmann, que propôs, em sua fala, o pensar a pesquisa em relação aos alimentos e as festas. Dito isto, ela elencou pontos e elementos a serem considerados no trabalho do pesquisador, como o medir das dificuldades da pesquisa e a busca pela mistura equilibrada do rigor (método) e diversidade das fontes. A professora usou como exemplo sua pesquisa feita no sertão, onde presenciou a diversidade de tradições e a quantidade das tradições camponesas ainda remanescentes. Ela ressaltou que alguns alimentos que concebemos como "natos" da nossa cultura são, na verdade, resultado da dinâmica dos produtos que vai introduzindo alimentos no cotidiano. Enfatizando este ponto, a professora afirmou a necessidade de desnaturalização do objeto de pesquisa. Uma forma de fazer isso é diversificar os elementos de memória, unindo relatos de homens, mulheres, idosos, jovens. Sobre as festas, a professora diz que foram deixadas de lado devido à seca e a desânimo que ela traz aos sertanejos. Mas buscou apresentar a seca como um fenômeno próprio da dinâmica do espaço do sertão. Ela ressaltou a necessidade de base histórica para esta pesquisa e deu exemplos de festas estudadas por ela como a Festa do Divino Espírito Santo (Goiás Velho) e a Festa do Reisado em Sergipe. A professora explicou que o pesquisador precisa dar atenção não só aquilo que é mostrado/dito, mas principalmente àquilo que se faz. Isso porque a dinâmica da produção promove funções e papéis diferentes entre o que se diz/mostra e o que se faz.

Na Mesa Redonda (22/05), a Profª Luzeineide Dourado foi a primeira a falar. Seu objetivo foi tentar compreender os processos contemporâneos de resignificação dos territórios - com ênfase no semi-árido - relacionando-s com a produção dos alimentos identitários. Para isso, apresenta o "território" como uma categoria interdisciplinar, um espaço dotado de significado e simbologia, ou seja, o lugar onde se faz cultura. A professora explicou que os impactos materiais e imateriais da globalização tem promovido mudanças no espaço do semi-árido: busca pela eficácia das ações, competição territorial, reivindicação e revalorização do território, fortalecimento do sentimento de pertencimento, trama territorial de desenvolvimento (redes, consórcios, etc) são elementos agora presentes nesta região. Mas, segundo a professora, o semi-árido precisa ser repensado como um espaço representativo da região. O choque entre a cultura sertaneja e os conflitos territoriais contribuiram para o enraizamento do sentimento de pertencimento, resultando numa valorização socioambiental. Os produtos identitários, por sua vez, resignificam a produção de alimentos provinda da agricultura familiar, rompe com paradigmas sociais e aumenta a renda familiar.

Na ultima Mesa Redonda (23/05), a Profª Maria Augusta, explanou sobre as políticas públicas e as manifestações culturais, pautada em três palavras-chave: reconhecer, preservar e proteger. A difícil interpenetração das políticas, a descontinuidade temporal e a dinâmica das produções culturais põe em discussão as competências - Estado e Sociedade, politicas públicas e cidadão. Os avanços do IPHAN resultam da mudança da ideia de preservação para o passado para a ideia de preservação para o futuro. A professora denunciou ainda o descaso das mídias para com as festas religiosas. A segunda fala foi a da Profª Claudia Marina Vasquez, que concentrou sua explanação no IPHAN e seu funcionamento. Dessa forma, os alunos participantes tiveram contato com o modo de trabalho e atuação do órgão, bem como com os planos de salvaguarda e a noção de patrimônio, e ainda com os instrumentos de preservação do patrimônio cultural e as linhas de ação do IPHAN.

Em seguida, as professoras Cênia Sales e Rosangela Pezza aprresentaram o Slow Food, que é uma associação internacional sem fins lucrativos que visa proteger as formas tradicionais de produção de alimentos. O alimento "ideal" para o SF pauta-se nas caracerísticas: "bom" (qualidade alta), "limpo" (produzido respeitando a natureza e a saúde) e "justo" (produzido de maneira sustentável). O consumidor é incentivado a se enxergar e a agir como um co-produtor daquele alimento. O SF trabalha ainda com educação alimentar e defende a proteção à biodiversidade.

Relatório do Seminário: "Índios em Sergipe e os Xokó (hoje)"

segunda-feira, 7 de maio de 2012
Nos dias 19 e 20 de abril de 2012, ocorreu, na Universidade Federal de Sergipe, o Seminário Índios em Sergipe e os Xokó (hoje)". Sob a coordenação do Prof. Dr. Antonio Lindvaldo e organizado por alunos do curso de História Licenciatura da UFS, o evento trouxe, nos dois dias de palestras, profissionais e pesquisadores do tema, bem como promoveu um encontro entre os alunos participantes e o ex-cacique Apolônio Xokó, experiencia essa que foi bastante enriquecedora.

A primeira palestra foi feita pela Profª Beatriz Góes Dantas, a qual participou ativamente da luta do povo Xokó, reunindo a documentação necessária para provar que os índios tinham direito à terra. A professora é referência no assunto não só por sua atuação junto aos Xokó, mas também pelos anos de pesquisa que realizou sobre os índios em Sergipe. Em sua fala, ela chamou atenção para a percepção européia sobre os índios, que desconsiderava a diversidade linguística e cultural daqueles povos, dividindo-os em dois grupos: os "tapuia" (termo tupi para "inimigo") e os Tupi. Ela também falou de aspectos sociais indígenas como a guerra, que tinha a função de funcionar como passagem de um jovem índio para a classe de "homem".  A professora nos relembrou do choque cultural que se deu entre indígenas e europeus, entre uma sociedade para a subsistência e uma sociedade baseada na acumulação de riquezas. A busca pela riqueza levou os europeus a adentrar no território e, à medida que iam ocupando terras, levavam a cruz. Concomitante ao avanço territorial foi a expansão da fé católica. Os índios, por sua vez, eram vistos de várias formas: como mão-de-obra, como almas a serem conquistadas para Deus, como infiéis que precisavam ser catequisados (guerras justas). As primeiras tentativas de catequese ocorrem em 1575, e fracassam por conta da ação da família Brito, detentora de poder devido à atividade pecuária. Com a conquista de Sergipe em 1590 por Cristóvão de Barros, missões começam a ser enviadas para cá, a fim de reorganizar os índios. Fossem ambulantes ou em forma de aldeamento, as missões funcionaram como um meio de "domesticar" os índios "selvagens", mas também de reservar terras e mão-de-obra. A Profª Beatriz chamou atenção para a produção escrita dos missionários - gramáticas e catecismos - que funcionaram como instrumentos de catequese e hoje são, para os historiadores, importantes fontes históricas para entendermos a missão como um espaço de contradições e choques de vozes em conflito. Na metade do século XIX, os registros sobre os índios em Sergipe desaparecem. Buscando responder a essa questão, a professora debruçou-se, juntamente com um grupo de pesquisa, sobre os documentos históricos, e notou que em 1850 foi assinada uma lei que mudaria a vida dos índios de Sergipe: a Lei de Terras. Nesse momento, o governo provincial declarou que os índios não mais existiam em Sergipe e que aqueles que se declaravam índios eram na verdade caboclos, mestiços. Assim, eles não teriam direito à terra. Assim, mais uma vez pudemos notar o choque de vozes e interesses, pois versões diferentes tentam contar uma mesma história. Foi a partir dessa investigação que a professora envolveu-se diretamente com a luta do povo Xokó.

A segunda palestra foi ministrada pelo Prof. Dr. Pedro Abelardo. O foco do professor foi a catequese e a civilização dos índios no Império. No período imperial pós-independência, discutia-se sobre "o problema indígena". O professor explicou o projeto civilizador de Bonifácio para os índios, que seria empreendido por meio da retomada da catequese. Dessa forma, catequistas capuchinhos chegam a Sergipe como funcionários do Estado - ou seja, agora, as missões são regulamentadas - cujo objetivo é civilizar os índios. O professor apresentou-nos uma diferenciação importante entre a catequese colonial e a catequese do século XIX, no período imperial pós-independência. A catequese colonial visava tornar os índios bons cristãos, promovia a expansão da cristandade e tinha como instituição de fomento a Igreja. Já a catequese colonial visava tornar os índios cidadãos do império, promovia a expansão do império e tinha no próprio estado imperial sua instituição de fomento.

Seria ingenuidade pensar que os indígenas assistiram a esse processo sem oferecer resistência. Tocando neste ponto tão importante e ainda tão pouco discutido, o Prof. Whitney Fernandes explanou sobre a reação indígena em Pacatuba diante da usurpação de suas terras, demonstrando mais uma vez que os índios não permaneceram passivos frente Às injustiças sofridas por eles. Não esquecendo que ainda existem índios e ainda existem causas de luta, o Prof. Avelar Araujo falou sobre o movimento indígena e a atualização das suas pautas de luta. Hoje, os índios possuem mais participação política, embora ainda sejam cerceados em algumas ocasiões e locais. Existem cerca de 225 povos, mais de 180 línguas. 688 terras indígenas ainda estão em processo de reconhecimento. Apesar de 85% do território indígena ter sido demarcado, ainda existem 12 etnias que aguardam pela demarcação de suas terras. Baseado nestes dados, o Prof. Avelar demonstrou que a principal pauta de luta dos índios ainda é o direito à terra, pois dela retiram todo o seu sustento e é lá que podem viver e praticar sua cultura livremente.

Por último, mas com certeza não menos importância, os alunos puderam ter a oportunidade de conversar com o ex-cacique Apolônio Xokó. Ele falou sobre a luta do povo Xokó, oferecendo um relato detalhado, numa linguagem simples e objetiva, emocionada e firme. Ao mesmo tempo, Apolônio trouxe reflexões importantes, como as rivalidades e intrigas existentes entre movimentos sociais como o movimento indígena e o movimento negro. Ele nos mostrou como existe preconceito e discriminação mesmo entre as chamadas "minorias sociais". Apolônio, com sua simplicidade, conseguiu contagiar os alunos que assistiam o Seminário no auditório de Geografia da UFS. Ele contou uma história real e regada a lua e sangue, de maneira tranquila e, em certos momentos, engraçada. Por sua simpatia e vivência, sua presença e sua fala tornou-se o ápice do Seminário, pois permitiu aos alunos não só ouvirem a história, mas conhecerem-na. Ela estava ali, em pé, diante deles. É de carne e osso, sorri, conta sua história e ainda usa o imponente cocar de quem tem a autoridade de guardar a memória da luta de um povo em si mesmo.

Carolline Acioli 

Resoluções de ano novo ;)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Em 2012:

- não esquecerei para Quem e por Quem vivo;
- não prometerei aquilo que eu não puder cumprir, nem pedirei mais do que eu puder dar;
- não esperarei por coisas que não foram prometidas a mim;
- não amarei esperando o mesmo amor em troca. Simplesmente amarei.
- não me deixarei levar por futilidades;
- não abandonarei um amigo, mesmo que esteja chateada ou magoada;
- não serei frágil ao ponto de deixar que alguém pense que pode me quebrar;
- não permitirei que nada ou ninguém tire de mim a minha voz;
- não desistirei das pessoas com as quais me propus caminhar, ainda que desistam delas mesmas;
- não me afastarei perpetuamente. Se eu precisar sumir por um tempo, pode crer que volto depois, mais forte;
- não esperarei provas de amor. Se é amor, não precisa ser provado;
- não tentarei prever ninguém, quero ser surpreendida;
- não terei medo da noite escura, porque o sol sempre brilha, mais cedo ou mais tarde;
- não esquecerei que há tempo para tudo na face da terra;
- não me deixarei levar pelas mágoas passadas;
- não me esquecerei de tudo o que eu abri mão para que pudesse chegar aonde estou hoje;
- não me esquecerei de onde já estive, para onde eu jamais quero voltar;
- não enterrarei os dons que Deus me deu, mas os usarei para Sua glória;
- não me envolverei em discussões sem futuro;
- não serei "mais uma", em nenhuma hipótese, em nenhuma situação, em nenhum tipo de relacionamento;
- não abrirei mão da minha fé por nada, nem por ninguém;
- não darei um passo sequer, antes de ouvir o "sim" que vem do Alto;
- não serei como o "címbalo que retine";
- não serei sal insípido, nem luz escondida debaixo da mesa;
- não esquecerei dos meus irmãos perseguidos;
- não hesitarei em pedir perdão ao perceber meu erro;
- não resistirei em perdoar;

E vc? O que 'não' vai rolar em 2012? ;)

Brincar com Deus

segunda-feira, 1 de agosto de 2011
(8) A Bíblia debaixo do braço precede o aviso: chegou o "irmão"
Mas um camarada esclarece: no domingo ele é crente, na semana é "mundão"
 Ê, é tanto crente que canta, que chora e diz: Eu sou de Jesus, mas quero viver pra me fazer feliz
É crente "santo" que abomina pecado e também pecador
e esquece que Deus não suporta pecado, de fato, mas Ele é amor...



Tanta gente brincando de ser crente...Brincando de louvar. Fecha os olhos e finge que aquelas palavras que estão sendo cantadas realmente fazem diferença, quando são vazias. Levanta a mãozinha e tá "na unção", mas só reproduz um comportamento que já ficou estereotipado.Vai "ministrar" no "ministério de louvor" e depois fica lá, fora da igreja, não acompanha o culto, só quer fazer seu show particular e ser elogiado. Ou pior, não se une à igreja, como se fosse mais santo. No domingo, é só unção!Que benção hein?!Ta brincando de ser crente, ta brincando de ser cristão, brincando de ser SEGUIDOR DE CRISTO. Ta querendo só benção, mas trabalhar pro Reino e viver pelo Rei que é bom... Ta brincando com Deus.

Brincar com Deus? Há! A galera não sabe no que ta se metendo mesmo, né? ISSO é ser sem noção (y) Vc tiraria uma ondinha com um juiz no tribunal dele? Vc zuaria a cara do presidente no gabinete dele? Então por que tirar uma com o Juiz, o Rei dos Reis, NO MUNDO DELE? Tsc, tsc... sem noção ¬¬

Hebreus 10:31
Deus.Abstrato e Concreto.Invisível e Presente.Santo e Emanuel.Juizo e Graça.O TUDO que te faz perceber que sem Ele, NADA mais importa e que, com Ele, NADA mais te falta. Deus.Acredite ou não, siga ou não, aceite ou não, Ele SEMPRE estará acima e SEMPRE será Deus. Ele REINA.

"Quem nunca esteve em Nárnia não compreende como uma coisa pode ser terrível e maravilhosa ao mesmo tempo" (C.S.Lewis)

Pra bom entendedor... ;)