I Seminário sobre Alimentos e Manifestações Culturais Tradicionais

terça-feira, 29 de maio de 2012
O evento acima citado ocorreu entre os dias 21 e 23 de maio de 2012, na Universidade Federal de Sergipe. A proposta era refletir sobre a produção de alimentos e de outras manifestações culturais tradicionais. A abertura do evento foi feita pela coordenadora do GRUPAM - grupo de pesquisa que organizou o evento - Prof Sonia Mendonça.

A conferência de abertura (21/05) contou com a contribuição da Profª Ellen Woortmann, que propôs, em sua fala, o pensar a pesquisa em relação aos alimentos e as festas. Dito isto, ela elencou pontos e elementos a serem considerados no trabalho do pesquisador, como o medir das dificuldades da pesquisa e a busca pela mistura equilibrada do rigor (método) e diversidade das fontes. A professora usou como exemplo sua pesquisa feita no sertão, onde presenciou a diversidade de tradições e a quantidade das tradições camponesas ainda remanescentes. Ela ressaltou que alguns alimentos que concebemos como "natos" da nossa cultura são, na verdade, resultado da dinâmica dos produtos que vai introduzindo alimentos no cotidiano. Enfatizando este ponto, a professora afirmou a necessidade de desnaturalização do objeto de pesquisa. Uma forma de fazer isso é diversificar os elementos de memória, unindo relatos de homens, mulheres, idosos, jovens. Sobre as festas, a professora diz que foram deixadas de lado devido à seca e a desânimo que ela traz aos sertanejos. Mas buscou apresentar a seca como um fenômeno próprio da dinâmica do espaço do sertão. Ela ressaltou a necessidade de base histórica para esta pesquisa e deu exemplos de festas estudadas por ela como a Festa do Divino Espírito Santo (Goiás Velho) e a Festa do Reisado em Sergipe. A professora explicou que o pesquisador precisa dar atenção não só aquilo que é mostrado/dito, mas principalmente àquilo que se faz. Isso porque a dinâmica da produção promove funções e papéis diferentes entre o que se diz/mostra e o que se faz.

Na Mesa Redonda (22/05), a Profª Luzeineide Dourado foi a primeira a falar. Seu objetivo foi tentar compreender os processos contemporâneos de resignificação dos territórios - com ênfase no semi-árido - relacionando-s com a produção dos alimentos identitários. Para isso, apresenta o "território" como uma categoria interdisciplinar, um espaço dotado de significado e simbologia, ou seja, o lugar onde se faz cultura. A professora explicou que os impactos materiais e imateriais da globalização tem promovido mudanças no espaço do semi-árido: busca pela eficácia das ações, competição territorial, reivindicação e revalorização do território, fortalecimento do sentimento de pertencimento, trama territorial de desenvolvimento (redes, consórcios, etc) são elementos agora presentes nesta região. Mas, segundo a professora, o semi-árido precisa ser repensado como um espaço representativo da região. O choque entre a cultura sertaneja e os conflitos territoriais contribuiram para o enraizamento do sentimento de pertencimento, resultando numa valorização socioambiental. Os produtos identitários, por sua vez, resignificam a produção de alimentos provinda da agricultura familiar, rompe com paradigmas sociais e aumenta a renda familiar.

Na ultima Mesa Redonda (23/05), a Profª Maria Augusta, explanou sobre as políticas públicas e as manifestações culturais, pautada em três palavras-chave: reconhecer, preservar e proteger. A difícil interpenetração das políticas, a descontinuidade temporal e a dinâmica das produções culturais põe em discussão as competências - Estado e Sociedade, politicas públicas e cidadão. Os avanços do IPHAN resultam da mudança da ideia de preservação para o passado para a ideia de preservação para o futuro. A professora denunciou ainda o descaso das mídias para com as festas religiosas. A segunda fala foi a da Profª Claudia Marina Vasquez, que concentrou sua explanação no IPHAN e seu funcionamento. Dessa forma, os alunos participantes tiveram contato com o modo de trabalho e atuação do órgão, bem como com os planos de salvaguarda e a noção de patrimônio, e ainda com os instrumentos de preservação do patrimônio cultural e as linhas de ação do IPHAN.

Em seguida, as professoras Cênia Sales e Rosangela Pezza aprresentaram o Slow Food, que é uma associação internacional sem fins lucrativos que visa proteger as formas tradicionais de produção de alimentos. O alimento "ideal" para o SF pauta-se nas caracerísticas: "bom" (qualidade alta), "limpo" (produzido respeitando a natureza e a saúde) e "justo" (produzido de maneira sustentável). O consumidor é incentivado a se enxergar e a agir como um co-produtor daquele alimento. O SF trabalha ainda com educação alimentar e defende a proteção à biodiversidade.

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