A Primeira Canção

domingo, 2 de janeiro de 2011
Ainda não encontrei ilustração melhor sobre a Criação do que a que fez C. S. Lewis em “As Crônicas de Nárnia”: ali, Deus – representado por Aslam, o Leão – cria Nárnia da escuridão e vazio completos, chamando-a a vida através de uma canção. Penso que não há mal em imaginarmos isso. Deus é o Arquiteto, o Médico, o Pai, o Engenheiro... E, claro, o Cantor. E a Primeira canção veio dele, daquele que Lewis chama de a “Voz Profunda”. Refletindo sobre as aplicações cristãs desse livro e dessa parte, em especial, foi que acabei escrevendo aquilo que está em meu coração já há alguns dias. Para entender o quão profundo essa verdade toca o coração, convido você, caro leitor, a imaginar comigo ;D

Imagine-se num lugar completamente escuro. Não estou falando da escuridão do seu quarto, quando apaga a luz antes de dormir. Mas sim da própria escuridão, imagine-se nela, DENTRO DELA, PARTE DELA. O nada. Vazio total. E, pra piorar, não há nenhum tipo de som: nem vento, nem latidos, nem passos, nem o som da sua própria respiração. Não existe NADA além do próprio nada.

Imagine que, de repente, ao longe, um som começa a despontar. Aos poucos, um canto suave começa a preencher a escuridão ao redor. Vem de todas direções. É um som tão bonito que chega a ser irresistível e insuportável ao mesmo tempo. E a voz que canta começa a tornar-se mais nítida, aumenta a intensidade e sua canção começa a ficar mais imponente. Então, está feito: HAJA LUZ!

Você acabou de testemunhar o nascimento da LUZ. Então, estrelas cintilam e começam a cantar também, vozes suaves e alegres. Planetas de todos os tamanhos, constelações, sóis e luas incontáveis, reluzentes e saltitantes. Um grande manto claro estende-se muito acima de sua cabeça, e, bem debaixo dos seus pés, solo. A voz ergue-se a tal ponto que o manto muda de cor e o ar vibra. As notas são fortes, marcadas e gloriosas, pois o que se levanta é glorioso também: o sol, o astro-rei nasce, sobe para o céu estendido e ri de alegria. A canção torna-se mais ritmada do que antes. Pedaços imensos de terra e outros menores se levantam, formando grandes cadeias de montanhas, colinas, depressões e chapadas. Capim começa a crescer e a se espalhar. Alguma coisa ia brotando da relva, lançando braços por todos os lados, cobrindo-se de verde, crescendo, crescendo, inúmeras delas apareciam e balançavam com a brisa suave que agora soprava: árvores de todos os tipos, frutos de todas as cores e sabores. Arbustos também cresciam, junto com plantas mais baixas e também as rasteiras. Primaveras surgem por todos os cantos! Flores sorriem e se abrem para a luz do amigo sol, todos os tipos de animais surgiam: latidos, coaxos, miados, relinchos, rosnados, cantos, cacarejos, rugidos... O som da tromba do elefante quase estoura seus tímpanos. E a Voz continua seu canto maravilhoso. A vida explode em cores brilhantes, quentes, banhada por notas rápidas e enfáticas. Mas a voz diminui de volume e a música assume um ritmo diferente, um aspecto misterioso. O pó da terra começa a se levantar, a acumular-se enquanto as notas deslizam no ar. Ao redor as cores ficam mais vivas ainda, brilhantes, o mundo ao redor borbulha como água numa chaleira. O pó acumulado parece ganhar uma forma específica e peculiar: alguma coisa está surgindo, não tão alta quanto uma árvore, nem tão baixa quanto um cachorro. E eis que essa nova forma fica lá, de pé, ainda inerte, contrastando com a vida ao redor. A canção fica ritmada de novo, mas lembra a melodia inicial, aquela que veio de longe e preencheu a escuridão. Parece que a voz está se aproximando, cada vez mais intensa e forte, as folhagens balançam, mas todos os animais ao redor param para observar o que irá acontecer em seguida. O vento sopra no pó, e o novo ser abre os olhos. Sente as notas vibrarem dentro do seu corpo, seguindo o mesmo ritmo da música, e seus lábios revelam um sorriso quando a Voz aproxima-se o suficiente. Eis que a canção enche tudo ao redor. Eis que a Voz é tudo. Eis que a Voz chamou á vida o nada, e fez explodir luz da escuridão. A canção pára. A Voz fala e dá nome ao mais novo dos seres: HOMEM. Agora, outra música começa. Não tão linda, intensa e profunda quanto a Primeira Canção. Mas sincera e perfeita, mesmo assim: o Primeiro Louvor.

Agora pense no lugar mais lindo que você já esteve. Pense na coisa mais incrível que você já viu. Pense na forma como tudo se encaixa. Pense em como tudo é tão complexo e tão belo. Pense na música mais linda que você já ouviu. Feche os olhos e, por um momento, fique em silêncio e ouça sua respiração. Sinta o ritmo de seu coração batendo. Sinta a vida tomando seu corpo, o sangue nas suas veias. Sinta cada membro, cada dedinho que se mexe, cada tecido e órgão cooperando e completando suas funções. Pense que a sua imaginação pode te levar desde o mais lindo dos lugares até o mais horrível, ou ridículo. Pense em como, ainda assim, você não consegue entender ou explicar tantas coisas ao seu redor. Sinta a vida explodindo em você, ao seu redor. E abra seus ouvidos... Isso tudo é música. A Primeira canção ainda vibra no ar e retumba na terra. Ainda se pode ouvi-la, chamado cada um de nós á vida, a uma vida plena. Ainda pode ser sentida, bem perto, dentro de nós e, ao mesmo tempo, vinda de todas as direções. Intensa, Profunda. E ainda pode ser ouvida cantando a mesma canção, que não tem palavras, mas que ecoa no fundo do ser e diz: VENHA A MIM.

Um dia alguém perguntou a essa Voz “Quem é você?”. E a mais bela melodia fez a terra estremecer, ao responder: EU MESMO.

“Alguém diz que não existe Deus, mas como isso é possível se, ao abrir os olhos de manhã, uma luz invade as frestas da janela, e se as flores no jardim se abrem, e se o fôlego no peito nos convida a viver ainda mais?”
 A grande chance - Grupo Logos.

Crendo no Eterno.

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